O Ecossistema Vaginal:Delicado e Complexo
Um mergulho no microcosmo da saúde feminina
A vagina é uma região que responde aos ciclos hormonais, desempenha um papel fundamental na vida sexual da mulher e é a passagem para a chegada de uma nova vida. Sua saúde é de extrema importância, pois qualquer problema nessa área pode ter um impacto significativo na vida da mulher. A ecologiada da vagina ou ecossistema vaginal, em particular, reflete o estado de saúde dessa região.
No coração desse ecossistema estão os lactobacilos, parte da flora vaginal normal, que desempenha um papel crucial na proteção contra infecções. Eles ocupam espaço na parede da vagina, revestindo-a e mantendo o pH vaginal entre 3,8 e 4,2, criando um ambiente ácido hostil para patógenos invasores. Além disso, essa flora saudável secreta peróxido de hidrogênio, inibindo o crescimento de bactérias nocivas.
As infecções vaginais, conhecidas como vaginites, são surpreendentemente comuns, representando mais de 10 milhões de consultas médicas anualmente. O diagnóstico dessas infecções nem sempre é preciso, com cerca de metade das mulheres que buscam tratamento médico, muitas vezes com médicos generalistas, recebendo diagnósticos incorretos. Os ginecologistas, especialistas no campo, possuem um conhecimento mais profundo das diferentes vaginites e podem realizar exames especializados para determinar a causa da infecção.
A vaginose bacteriana, que corresponde a cerca de 20 a 50% dos casos, é a infecção vaginal mais comum, seguida pela candidíase (vulvovaginite) com cerca de 17 a 40% dos casos, e a tricomoníase, uma doença sexualmente transmissível, que representa aproximadamente 4 a 35% dos casos.
É comum que as mulheres recorram a métodos alternativos, como duchas vaginais, probióticos e mudanças na dieta para aliviar os sintomas. No entanto, é fundamenental distinguir entre situações normais e problemas reais. Muitas vezes, as mulheres se tratam erroneamente, sem a necessidade real de intervenção médica.
Além dos sintomas físicos, as vaginites também podem ter um impacto psicológico e social profundo. Elas interferem na atividade sexual, causam coceira, desconforto e odor vaginal desagradável, levando a sentimentos de inibição e vergonha. Algumas mulheres podem até relacionar suas infecções com comportamentos passados, infidelidade ou câncer, o que pode afetar sua autoestima.
A candidíase, por exemplo, afeta cerca de 75% das mulheres em algum momento de suas vidas, e até 50% daquelas que a contraem enfrentam recorrências. Os fatores de risco incluem o uso de espermicidas, anticoncepcionais orais, antibióticos, corticoides sistêmicos e até mesmo alergias. O tratamento é geralmente baseado em antimicóticos, como a nistatina, administrados por via oral ou vaginal.
Já as vaginoses bacterianas, causadas por bactérias anaeróbicas que substituem os lactobacilos na vagina, são ainda mais comuns. Os fatores de risco incluem múltiplos parceiros sexuais, falta do uso de preservativos e um desequilíbrio na flora vaginal. O tratamento envolve antibióticos, como o metronidazol e a clindamicina.
No entanto, para muitas mulheres, o tratamento convencional não é suficiente. Para aquelas que sofrem de infecções recorrentes, uma abordagem mais abrangente que leve em consideração fatores alimentares, como o consumo de açúcar, alergias alimentares e suplementos nutricionais, pode ser benéfica.
Além disso, a medicina tradicional chinesa oferece uma perspectiva única sobre o problema, enfocando o equilíbrio fatores externos e internos na manifestação de vaginites e vaginoses. Segundo a MTC a presença local de umidade e de calor levarão aos desequilíbrios da flora local e possíveis vaginites e vaginoses. Tratamentos como acupuntura, fitoterapia e mudanças na alimentação podem ser adotados para abordar o problema na raiz.
Tratamento
Uma dieta livre de açúcar e carboidratos simples é a primeira medida para as mulheres que sofrrem de vaginites e vaginoses. Cuidar dos aspectos nutricionais e alimentares é sempre a base da saúde, ainda mais aqui, em que estamos tratando de uma flora delicada e responsiva.
Muitas pacientes com alergias alimentares específicas (como ao glúten, à lactose, a determinados corantes etc.) se beneficiam, de forma global e sistêmica, ao eliminar o alimento que causa a alergia. Isso também se reflete nas infecções vaginais de repetição. Além das alergias descritas, alergias a inalantes, pólen, fungos alimentares e outros produtos químicos podem causar não só a vaginite com sintomas de coceira, como, ainda, com sintomas de dor vaginal.
- O uso de probióticos com diferentes cepas como os lactobacillus reuteri e rhamnosus é muitas vezes indicado. Alguns probióticos são dados por via oral e outros por via vaginal. As cepas utilizadas dos probióticos costumam ser diferentes de cepas para o tratamento de problemas gastrointestinais. A flora probiótica é diferente em cada parte do corpo. Uma das formas de tratamento por probiótico é o uso do iogurte, seja por via oral (para aqueles que não tem restrição ao leite) ou vaginal.
- Vitaminas C e E e o Zinco podem auxiliar em casos de repetição desses quadros.
- Na Medicina Tradicional Chinesa um fitoterápico se destaca: Wan Dai Tang, responsável por equilibrar os quadros de umidade e umidade calor no chamado aquecedor inferior do qual a vagina faz parte. Na acupuntura pontos como o BP9, VC9, E36, VC3 e E29 podem ser indicados, a depender de cada caso.
- Banhos de assento com diferentes ervas medicinais pode ser feito como por exemplo com as infusões de Alcaçuz, Camomila, Calêndula, Orégano, Chá Verde, Hammamelis acrescidas ou não de uma colher de chá de bicarbonato de sódio.
Em um mundo onde as infecções vaginais afetam a qualidade de vida de tantas mulheres, explorar essas abordagens alternativas pode proporcionar alívio e bem-estar duradouros. Cada mulher é única, e a busca por uma solução eficaz deve levar em consideração a complexidade do microcosmo
Explore a fundo o universo da saúde feminina, com ênfase na ecologia vaginal e abordagens integrativas. Desde a medicina tradicional chinesa até a fitoterapia no meu e-book: Pílulas de Conhecimento em Saúde Vol. II . Este e-book oferece um conteúdo rico e abrangente para o seu bem-estar e as suas pacientes.