Como sair da tirzepatida e manter o peso: é possível?
Nos últimos anos, medicamentos como a tirzepatida (conhecida comercialmente como Mounjaro® ou Zepbound®) transformaram o tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2.
Com sua ação dupla nos receptores de GLP-1 e GIP, ela ajuda a reduzir o apetite, melhorar o metabolismo e promover perda de peso significativa.
Mas surge uma dúvida comum entre pacientes e profissionais: o que acontece quando o tratamento é interrompido? É possível manter peso perdido?
A resposta curta é: sim, é possível — mas exige estratégia, acompanhamento e mudança de estilo de vida.
Vamos entender o porquê. O que acontece no corpo durante o uso da tirzepatida.
A tirzepatida age em múltiplos mecanismos que regulam a fome e o metabolismo. Ela:
– Retarda o esvaziamento gástrico, fazendo com que a pessoa se sinta saciada por mais tempo.
– Diminui o apetite e os impulsos alimentares, atuando no sistema nervoso central.
– Melhora a sensibilidade à insulina e reduz a produção de glicose pelo fígado.
– Aumenta a queima de gordura e melhora a composição corporal, preservando a massa magra.
Esses efeitos combinados fazem com que o corpo entre em um novo equilíbrio energético, levando à perda de peso e melhora de marcadores metabólicos como glicemia, triglicérides e resistência à insulina.
O que os estudos mostram após a suspensão do medicamento Os estudos clínicos de fase 3 — especialmente os ensaios SURMOUNT-1 e SURPASS-2 — mostraram que, quando o medicamento é interrompido, ocorre uma recuperação gradual de parte do peso perdido.
Em média, os participantes recuperaram 50 a 70% do peso em até um ano, e os níveis de glicose voltaram aos valores pré-tratamento. É importante destacar que isso não é um efeito rebote patológico, nem significa que o corpo ficou dependente da medicação.
O que ocorre é simplesmente a perda do efeito farmacológico: o apetite volta a aumentar, o metabolismo desacelera e o corpo tenta retornar ao seu ponto de equilíbrio anterior — fenômeno conhecido como set point. Por outro lado, os participantes que mantiveram acompanhamento nutricional e programas de exercício estruturado conseguiram preservar 30 a 40% da perda de peso, mesmo após a suspensão do fármaco. Isso mostra que o medicamento pode ser um catalisador de mudança, mas a sustentabilidade depende do estilo de vida. Por que o peso tende a voltar A obesidade é uma condição crônica, multifatorial e com forte componente biológico.
Durante o tratamento com tirzepatida, o corpo passa por ajustes hormonais — há aumento da saciedade e redução da fome. Quando a droga é retirada, hormônios como grelina (que estimula o apetite) e leptina (que sinaliza saciedade) voltam aos seus níveis originais, o que facilita o reganho de peso. Além disso, o gasto energético basal tende a diminuir após grandes perdas de peso. Se a alimentação e o movimento não forem ajustados, o balanço calórico volta a se tornar positivo, e o corpo recupera gordura. Como sair da tirzepatida de forma segura A suspensão deve ser planejada e gradual, idealmente com acompanhamento médico e nutricional. Uma estratégia com bons resultados é reduzir a dose em etapas — por exemplo, de 15 mg para 10 mg, depois 7,5 mg e 5 mg —, aumentando o intervalo entreas aplicações. Durante essa fase, o foco deve ser ensinar o corpo a manter o novo peso sem a ajuda da medicação. As principais medidas incluem:
1. Alimentação rica em proteínas e fibras: Garantir ingestão de 1,2 a 1,5 g/kg de proteína por dia ajuda a preservar a massa magra e prolonga a saciedade. Frutas, legumes e grãos integrais fornecem fibras que estabilizam a glicemia e reduzem picos de fome.
2. Treino de força: O exercício resistido é o melhor aliado para manter o metabolismo ativo. Estudos mostram que quem pratica musculação regularmente preserva o gasto energético basal e tem menos reganho de peso.
3. Sono e estresse: Dormir pouco ou viver sob estresse crônico eleva cortisol e grelina, estimulando o apetite. Práticas de relaxamento, meditação e sono regular são essenciais para a manutenção.
4. Acompanhamento psicológico: O manejo de fome emocional, ansiedade e autoimagem é determinante no sucesso a longo prazo. Intervenções como alimentação consciente (mindful eating) e terapia cognitivo-comportamental mostraram-se eficazes em reduzir recaídas alimentares.
5. Monitoramento metabólico: Mesmo após suspender o uso, é importante acompanhar glicemia, insulina, HOMA-IR, colesterol e composição corporal a cada três meses.
Pequenas intervenções precoces previnem o retorno do ganho de peso.
Fitoterapia e suplementação como apoio: Alguns recursos naturais podem auxiliar na fase de transição, sempre com supervisão médica:
- Berberina (500–1000 mg duas vezes ao dia): melhora a sensibilidade à insulina e reduz glicemia.
- Ácido alfa-lipóico (300–600 mg/dia): antioxidante e sensibilizador insulínico.
- Chá verde (EGCG) e cafeína em doses moderadas: aumentam discretamente a termogênese.
- Extrato de açafrão: ajuda no controle da fome emocional.
As evidências científicas são de grau moderado e essas medidas devem ser integradas a um plano alimentar e de estilo de vida. Manter o peso é possível — mas exige continuidade Sair da tirzepatida sem recuperar todo o peso é um objetivo realista, desde que o paciente esteja preparado para uma fase de manutenção ativa. A medicação oferece uma oportunidade de reiniciar o metabolismo, mas o novo equilíbrio precisa ser consolidado com hábitos sustentáveis. O foco deve deixar de ser apenas o número na balança e passar a ser a composição corporal, a qualidade do sono, o equilíbrio emocional e o bem-estar global.
Com essa visão integrativa e acompanhamento regular, o paciente pode transformar um tratamento farmacológico em uma virada de estilo de vida duradoura.
Referências principais:
– Jastreboff AM et al.
Nature Medicine. 2024;30(2):205-218. – Ludvik B et al. Diabetes Obes Metab.
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Meier JJ. Diabetes Care. 2024;47(Suppl 1):S123-S134. – Holst JJ. Endocrine Reviews.
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